Durante o IX Encontro Latino Americano de Organizações Populares Autônomas – ELAOPA, houve um grupo de trabalho entitulado “Educação e Espaços Autônomos” que acbaou se tornando uma troca de experiências sobre os diversos grupos do país que tentam e tentaram manter espaços físicos para suas organizações. Nesse sentido, apresento apresento os pontos levantados ao longo do debate com o objetivo norteador para o atual desejo da Convergência de Grupos Autônomos.
- Definir o objetivo/caráter do coletivo e por consequência do espaço
O principal ponto levantado foi a definição pelo coletivo de seus objetivos políticos para além dos objetivos de longo prazo comuns à esquerda. Quando se define o ponto de alcance desejado, é possível definir o caráter desse coletivo baseado nas estratégia de ação pensadas. Deste modo, foram apresentados dois tipos de espaços autônomos:
- Espaço Comunitário: onde é necessário a inserção numa determinada comunidade, em que os participantes do coletivo devem, de preferência, morar no mesmo local para congregar das necessidades comunitárias, sentindo no cotiano seus desafios e possibilidades. Esses espaços, geralmente possuem maiores estruturas e apresentam objetivos de maior prazo que envolvem o empoderamento político da comunidade local. Por isso, devem ficar atentos em não estabelecer laço de dependência com a mesma durante o processo de construção de sujeitos políticos.
- Espaço de apoio à movimentos sociais: esse tipo espaço necessita da localização central na cidade para facilitar o acesso de todos os grupos e pessoas envolvidos no cotidiano político do espaço, seu principal objetivo não é criar novos agentes políticos, mas dar o suporte necessário a coletivos já organizados. Deste modo, pode apresentar um menor espaço físico e não necessita participar ativamente do cotidiano local.
Ambos os espaços possuem características não excludentes, por outro lado, os mesmos necessitam de definições estratégicas para que seus diferentes e complementares objetivos sejam alcançados. Os dois espaços possuem caráter de formação educativa, enquanto o primeiro se propõe à formação inicial e à incitação ao envolvimento político, o segundo se afirma como um espaço de aprofundamento e trocas de experiências entre os coletivos já ativos.
- Divulgar princípios
Mesmo com diferentes características, os dois espaços lidam com pessoas não inseridas no cotidiano político da esquerda autonomista e precisam deixar claro seus princípios aos novos participantes ou frequentadores passageiros para evitar problemas pessoais, ao mesmo tempo, que divulga os princípios deste outro mundo que lutamos por conquistar.
- Definir limites
Como uma ação preventiva à frustrações e possíveis extinção de coletivos, é necessário traçar objetivos condizentes com as possibilidades do coletivo em questão. Essa prática não deve ser confundida com reformismo, mas o estabelecimento de etapas claras que trazem conquistas, envolvimento e alegria ao coletivo. Assim, deve-se estabelecer:
- Perfil político dos coletivo:
- Que mundo nós queremos?
- Que princípios seguiremos para conquistar esse mundo?
- Estratégias:
- Qual é a luta que meu coletivo tem mais afinidade nesse momento?
- O que devo fazer, durante este tempo determinado, para conquistar esse mundo?
- Táticas:
- Quais são os recursos (materiais e imateriais) necessários para atingir meus objetivos e sustentar o cotidiano de trabalho desse coletivo?
- Como conseguir esses recursos?
- Mapear participantes
Uma das questões apontada como grande causa de frustrações em coletivos que tentam gerir seu próprio espaço é o não comprometimento de todos os envolvidos no coletivo. Nesse sentido, foi alertado o fato de que nem sempre sujeitos identificados como integrantes do coletivo o são de fato, este se caracterizam mais como simpatizantes ou colaboradores. O mapeamento dos integrantes comprometidos em atuar no cotidiano do espaço pode evitar tarefas não realizadas e problemas pessoais dentro do espaço. Esta questão não pretende hierarquizar os integrantes de acordo com a participação, mas evitar a sobrecarga de indivíduos que, na realidade, não desejam acumular muitas tarefas e possíveis crenças de descomprometimento.
- Estratégias de acúmulo humano e financeiro
A grande maioria dos coletivos apresentado durante a atividade do IX ELAOPA, estavam endividados ou fecharam por problemas financeiros, somente um espaço conseguia se sustentar através de recursos conquistados com festas. Pode-se identificar duas maneiras de sustentar um espaço:
- Doações: em que é de extrema importância o comprometimento e estabilidade dos envolvidos para que o coletivo não seja pego de surpresa com a falta de qualquer doação não comunicada com antecedência.
- Festas/Comércio: essa possibilidade requer integrantes do grupo dispostos a lidar com o cotidiano de trabalho não remunerado para o espaço e é mais comum nos espaços comunitários, que apresentam maiores proporções e envolvimento com o cotidiano dos integrantes.
Em ambos os casos, se possível, é necessário trabalhar com um fundo de segurança financeira.
- Política sobre o uso de drogas
Mesmo com características diferentes, todos os tipos de espaços constituem espaços de convivência, que congregam pessoas com diferentes interesses e procuram ser espaços convidativos a todo tipo de pessoas. Uma discussão franca em torno do uso de drogas lícitas e ilícitas no local pode evitar desentendimentos e o afastamento de públicos que ainda não engajados politicamente. Deve-se levar em consideração os objetivos políticos do coletivos nessa discussão, os diferentes momentos que envolvem o cotidiano do espaço autônomo e o perfil das pessoas envolvidas e das pessoas desejadas nesse processo. O resultado da discussão deve ser divulgado.
- Práticas políticas que constroem
Mesmo que os coletivos em questão nesse texto atuem em todas as facetas da sociedade, questionando suas desigualdades econômicas, sem perder o foco nas explorações sociais que envolvem questões raciais, de gênero, sexualidade e geracionais, os coletivos devem ter em mente que procuram construir um mundo novo. Deste modo, sua prática política deve partir de ações construtivas e não segregadoras, já que mais pessoas envolvidas repensando suas práticas é melhor do que uma minoria reformulada politicamente que só dialoga com seus iguais. Sem construção não há revolução!
Gabriela de Andrade